Opinião | Céu de fumaça 3e613p

Foto: reprodução

Nas últimas semanas, um fenômeno chamado de “chuva preta” repetiu-se por várias regiões do Brasil, e aqui em Santa Catarina não foi diferente. Esse fenômeno é resultado das partículas de fumaça que se acumulam na atmosfera e se misturam com a umidade do ar, formando nuvens carregadas de poluentes e tornando a chuva escura, às vezes preta, outras vezes marrom. Essas partículas provêm das queimadas criminosas que acontecem, sobretudo, na Amazônia e no Pantanal. Embora as autoridades ainda estejam investigando, parece ser uma estratégia organizada que mistura negacionismo ambiental, sectarismo político de extrema-direita e pura ganância econômica. 4d6153

Esse fenômeno é sintomático de um modo de produção que transforma tudo em mercadoria, visando não só o lucro, mas também convertendo as relações sociais em produtos. Aliás, o “povo da mercadoria” é como Davi Kopenawa, liderança indígena e xamã Yanomami, se refere ao homem branco.

Outro pensador indígena, o recém-eleito para a Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak, em sua crônica “Antes o mundo não existia”, expõe claramente o modo como nos relacionamos com o meio ambiente: “Enquanto um homem olha para uma montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro ali podem existir, meu pai, meu avô, meus primos olham para aquela montanha e veem o seu humor, se ela está triste, feliz ou ameaçadora, e fazem cerimônias para a montanha, cantam para ela, cantam para o rio…”

Na tradição do povo de Kopenawa, há uma profecia: a insistência em transformar a natureza em um mero ativo econômico e sua destruição contínua desencadearão um cataclismo em que o céu desaba sobre nossas cabeças.

O banho de carvão que desce em forma de chuva sobre nós talvez não seja apenas mais um aviso! Que, assim como tantos outros sinais, não e despercebido aos ouvidos moucos, fechados tanto para as afirmações científicas quanto para os alertas ambientais e as crenças tradicionais. Que despertemos antes que o próprio céu desabe sobre nossas cabeças.

Dr. Professor Josué de Souza, cientista social


1 Comentário 1l4a35

  1. E o pior, não podem culpar Bolsonaro, devem estar muito chateados .

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